O editorial “Saúde Sexual e Reprodutiva nos Estados Unidos, 2024: Como você votará?” (em tradução livre), da Paula J Adams Hillard MD (JPAG, Editor-in-Chief), destaca a importância crucial das questões relacionadas à saúde sexual e reprodutiva nas eleições de novembro de 2024. Escrito após as eleições primárias no estado da Califórnia, a autora enfatiza que embora algumas corridas políticas ainda estejam indefinidas, a escolha para a corrida presidencial não é tão acirrada em grande parte do país, tanto para os candidatos democratas quanto para os republicanos.
A autora reconhece que a política pode ser um tema controverso, até mesmo entre membros da mesma família, e que nem todos atribuem o mesmo peso a todas as posições políticas de um candidato. No entanto, ressalta que, no contexto das eleições de 2024, a escolha entre os candidatos é clara para aquelas que apoiam a saúde sexual e reprodutiva, a justiça reprodutiva, assim como o acesso à contracepção e ao aborto.
Um ponto-chave abordado no editorial é um estudo realizado no Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas:
Um estudo recente conduzido por Bahamondes e colegas no Brasil está lançando luz sobre a eficácia e a aceitação dos dispositivos intrauterinos (DIUs) em adolescentes. Publicado recentemente, o estudo é notável não apenas por seus resultados, mas também por sua abordagem inovadora em uma área da medicina que carece de ensaios clínicos randomizados: a Ginecologia Pediátrica e Adolescente (PAG).
O estudo avaliou o desempenho clínico, padrões de sangramento, dismenorreia e satisfação do paciente com três tipos de DIUs: o DIU de cobre, o DIU de levonorgestrel de 52 mg e o DIU de 19,5 mg em adolescentes, com uma média de idade de 17,9 anos, sendo 80,8% nulíparas. Os resultados, embora em certa medida esperados, fornecem insights valiosos devido ao desenho randomizado do estudo.
Um dos principais achados foi a alta taxa de continuação de todos os DIUs, que foi de 83%. No entanto, a continuação foi ligeiramente menor com o DIU de cobre em comparação com os DIUs hormonais. Além disso, a taxa de expulsão foi mais alta nos DIUs de cobre, com 14,9 expulsões por 100 mulher-ano. Os DIUs hormonais também apresentaram vantagens em relação ao sangramento menstrual e à dismenorreia, com uma proporção significativamente menor de adolescentes relatando esses sintomas em comparação com o DIU de cobre.
Um ponto notável foi a alta taxa de satisfação do paciente, com uma taxa impressionante de 97,8% no grupo que recebeu a dose mais alta de levonorgestrel. Isso sugere que, apesar das preocupações ou dúvidas que alguns possam ter sobre o uso de DIUs em adolescentes, a grande maioria está satisfeita com sua escolha contraceptiva.
Para os profissionais de saúde e os defensores da saúde reprodutiva, este estudo fornece um apoio robusto ao uso de DIUs em adolescentes, incluindo aquelas que nunca engravidaram. A sua importância não se limita apenas ao contexto brasileiro, mas tem repercussões globais, especialmente em um momento em que o acesso à contracepção segura e eficaz é fundamental para a saúde das adolescentes.
Embora ainda haja desafios a serem enfrentados, como a educação sobre contracepção e o acesso aos serviços de saúde, os resultados deste estudo são um passo significativo na direção certa. Eles destacam a importância de abordagens baseadas em evidências na promoção da saúde sexual e reprodutiva das adolescentes em todo o mundo. Com mais pesquisas e uma maior conscientização, podemos continuar avançando na proteção dos direitos reprodutivos das jovens mulheres.